A estratégia básica da Biologia evolucionária é a investigação do contínuo de variação (aparecimento) e seleção (manutenção ou desaparecimento) do seu objeto de estudo (DAWKINS, 2009), que nesse caso, são mutações gênicas que se expressam de diferentes formas nos organismos, e que produzem os mais diversos efeitos em seu ambiente. Tais mutações ocorrem freqüentemente durante o processo de replicação do DNA.
Em outras palavras, o ambiente seleciona determinadas características de um organismo que mais favorecem a sobrevivência e sua conseqüente capacidade de reprodução, possibilitando a passagem desses genes para uma nova geração.
É importante então ressaltar que o processo de variação é possibilitado pelo aparecimento de cópias imperfeitas do DNA, e que seleção, é um termo específico que expressa os efeitos (positivos ou negativos) de tais mutações no processo de interação organismo-ambiente, ou seja, as conseqüências dessas mudanças para o indivíduo. Trata-se de princípios relativamente simples, mas que são suficientes para explicar toda a complexidade dos seres vivos, pois esse processo evolutivo ocorre em uma escala de tempo de milhões de anos.
- Seleção por conseqüências e sua relação com a seleção natural
Quando passamos a analisar o comportamento sob o viés da Análise do Comportamento, nos deparamos com fenômenos análogos aos explicados acima. O estudo do comportamento operante também nos mostra que, variação e seleção constituem a mola básica para se compreender a complexidade dos seres ao nível comportamental (HUNZIKER, 2001).
Sobre essa relação do comportamento operante com a seleção natural Cavalcante (1999) afirma:
É importante então ressaltar que o processo de variação é possibilitado pelo aparecimento de cópias imperfeitas do DNA, e que seleção, é um termo específico que expressa os efeitos (positivos ou negativos) de tais mutações no processo de interação organismo-ambiente, ou seja, as conseqüências dessas mudanças para o indivíduo. Trata-se de princípios relativamente simples, mas que são suficientes para explicar toda a complexidade dos seres vivos, pois esse processo evolutivo ocorre em uma escala de tempo de milhões de anos.
- Seleção por conseqüências e sua relação com a seleção natural
Quando passamos a analisar o comportamento sob o viés da Análise do Comportamento, nos deparamos com fenômenos análogos aos explicados acima. O estudo do comportamento operante também nos mostra que, variação e seleção constituem a mola básica para se compreender a complexidade dos seres ao nível comportamental (HUNZIKER, 2001).
Sobre essa relação do comportamento operante com a seleção natural Cavalcante (1999) afirma:
"No operante, diferentemente do respondente ou reflexo, que é eliciado por uma alteração ambiental antecedente, eventos conseqüentes ao comportamento alteram sua probabilidade de ocorrência futura. Isto é, a partir de uma variação comportamental (decorrente de fatores como a variedade de padrões comportamentais filogeneticamente selecionados e o processo de imitação) o organismo produz mudanças ambientais que retroagem sobre ele e o alteram em termos de probabilidade de resposta futura." (CAVALCANTE, 1999)
Portanto, da mesma forma que mutações gênicas são selecionadas ou não de acordo com os efeitos que produzem no ambiente, uma variação comportamental é selecionada pelas conseqüências que ela produz.
Assim como a Biologia evolucionária avança em seus estudos sem recorrer a um “Designer” ou “Criador”, a aplicação desse pensamento selecionista na explicação do comportamento humano não pressupõe um “Eu iniciador” ou “Mente criadora”. O modelo explicativo de seleção por conseqüências busca, portanto, o estabelecimento de leis gerais que dêem conta de explicar a grande diversidade comportamental dos indivíduos considerando um passado que promoveu mudanças que interferem no seu repertório comportamental (HUNZIKER, 2001). É importante notar também que, como ressaltou Skinner (1981), o condicionamento operante é seleção em progresso, diferentemente do processo de evolução das espécies que ocorre num período de muitas gerações. O comportamento complexo de um ser humano é fruto de uma longa história de seleção (reforçamento), tanto ao nível ontogenético quanto no nível filogenético.
Referências Bibliográficas :
CAVALCANTE, S. N. (1999). Abordagem biocomportamental: síntese da análise do comportamento? Psicol. Reflex. Crit. vol.10 n.2 Porto Alegre 1997
DAWKINS, Richard. O maior espetáculo da Terra: as evidências da evolução. – São Paulo: Companhia das Letras, 2009
HUNZIKER, M.H.L. O estudo do desamparo aprendido como estratégia de uma ciência histórica. Sobre o comportamento e cognição, 7, 2001
Tenho muita curiosidade em estudar as relações entre filogênese e ontogênese. Não sou AC mas gosto muito do paradigma comportamentalista, especialmente quando tratamos do operante. No entanto, não estou inteiramente certo se tal paradigma é incoerente com o pressuposto do "Eu iniciador" ou da "Mente iniciadora" do comportamento.
ResponderExcluirPara que um comportamento seja emitido, o encéfalo precisa processar os estímulos ambientais, e desse processamento são geradas respostas possivelmente relacionadas a consequências produzidas por comportamentos anteriores (consequências estas também processadas pelo encéfalo). Até aí, de certa forma diríamos que não precisamos de mente ou eu para que um comportamento seja emitido.
E é verdade. Mas acontece que alguns circuitos desse processamento neural, responsável pela emissão de respostas, produzem aquilo a que chamamos "eu". Autores como Damásio, como você deve ter visto, Ramon, postulam que o self origina do processamento de sinais advindos do corpo. Esse mesmo autor discorreu, em outra obra (O erro de Descartes), sobre a importâncias das emoções na tomada de decisão, comportamento social e planejamento. As emoções funcionariam de forma a sinalizar o curso do nosso comportamento de pensar e agir. É possível que ao menos grande parte do princípio do condicionamento baseia-se, em termos neurais, no encadeamento de processos cognitivos a processos de natureza emocional (com as emoções sinalizando o que é bom ou ruim, por ex., e através disso orientando nosso comportamento).
Se é verdade que o eu é essencialmente produzido pela sinalização somática, e uma vez que as emoções (por antecipação de eventos ou "estabelecedoramente") direcionam nosso comportamento, de certa forma podemos dizer que o eu pode também ser adotado como um referencial explicativo. Isso é visto quando afirmamos "Eu sinto", "Eu quero", "Eu faço" etc.
Todo comportamento é guiado pela sinalização emocional, proprioceptiva (músculo e esqueleto), tátil etc., e a forma como o córtex organiza essas informações é imprescindível para a adequação do comportamento. Uma vez configurado um eu, o organismo possui um referencial comportamental capaz de garantir-lhe sobrevivência e procriação. Dizer de um "Eu iniciador" (diferentemente, no meu ponto de vista, de uma "Mente iniciadora") pode não ser um argumento científico, sistematizado, mas ao mesmo tempo não contradiz, no meu entendimento, o paradigma comportamentalista. O que nos falta fazer é TRADUZIR satisfatoriamente o linguajar popular nos moldes da linguagem que adotamos em nossos estudos, e só então certificar se há ou não há equívocos explicativos. E acho que todo esse papo, aliás, serve também para o embate mente-comportamento.
No mais, ótimo texto! Parabéns! Um abraço, Ramon.