terça-feira, 14 de julho de 2009

Michael Jackson, evidências e preconceitos.

Usarei aqui um fato recente para ilustrar um assunto interessante : a importância das evidências.
Recentemente começou a circular na mídia em geral, um vídeo do corpo de Michael Jackson sendo transportado em um helicóptero, saindo do hospital onde ele supostamente teria falecido. O vídeo mostra ( por um ângulo terrível ) o corpo de Michael envolto em uma espécie de plástico ou lençol branco, e por um breve momento, esse "lençol branco" teria se curvado levemente para o lado. ( O vídeo pode ser visto aqui : http://www.youtube.com/watch?v=5-slQElyAjI - repare também nos comentários que o vídeo recebeu no Youtube )

Na verdade, tivemos também um outro vídeo polêmico de uma suposta sombra de Michael, sendo avistada em seu rancho Neverland dias após sua morte. ( O vídeo pode ser visto aqui : http://www.youtube.com/watch?v=bL6D2wrNT6Q )
Esse pequeno movimento do suposto corpo de Michael no helicóptero, a visão da "sombra", e outras peculiaridades na vida passada do cantor, foram suficientes para levantar uma hipótese de teoria da conspiração. Michael Jackson fingiu sua morte e continua vivo por ai !

A partir desse cenário polêmico, é possível retirar algumas lições importantes sobre evidências.
O "lençol branco" se mexendo no helicóptero, pode ser encarado como evidência concreta de que Michael não morre ? A resposta é não. Tal movimento do corpo pode ter ocorrido por N outros motivos, e não necessariamente se liga ao fato de Michael estar vivo. Alguém dentro do helicóptero pode ter simplesmente esbarrado no corpo, ou o próprio balanço da aeronave fez com que o corpo se curvasse. Talvez nem mesmo seja o corpo de Michael ! Não há conexão direta lógica entre este fato, e o fato de Michael ter forjado sua morte.

Ora, o que se observa não é a construção de uma hipótese sustentada por evidências reais, e sim sustentadas por uma profunda vontade de acreditar que Michael esteja vivo - ou mesmo pior - por uma profunda vontade de simplesmente brincar com a morte do cantor, e estimular a boataria! Algo que também colabora com a criação de toda essa especulação, é a própria vida regressa tumultuada do cantor, que sempre foi cercada de boatos e mitos não comprovados.

Estou usando esse fato recente como mera ilustração, mas é possível pensar em situações análogas em vários outros tipos de situações. Temos milhares de pessoas por exemplo que tem certeza da existência de OVNIS e ETs, e alimentam essa certeza com as "evidências" proporcionadas por visões de luzes pairando no céu ou relatos de abduções. Porque não citar também os religiosos em geral, que apesar da total inexistência de evidências, são movidos por um profundo desejo de crer e atribuem qualquer melhoria por exemplo, em sua condição de vida ou na dos outros, à milagres divinos ?
Um pastor cura uma pessoa que estava com dor nas costas depois de gritar e gesticular bastante no altar. Que evidências temos de que realmente o pastor foi responsável pela cura, além de uma simples conexão cronológica ( post hoc ergo propter hoc ) ? Há outras possibilidades como por exemplo, o bem conhecido efeito placebo...

O mais interessante, é quando esse tipo de pessoa se depara com outro tipo de situação.
Suponha que dizemos a um crente por exemplo, que sua amada e fiél esposa de longa data, está o traindo com seu melhor amigo. Se o crente não for um desses cantores sertanejos ditos "cornos mansos", ele imediatamente se transformará no mais rigoroso cético ! Irá exigir que você prove a sua afirmação. Irá buscar evidências da suposta traição em sua casa. Uma peça de roupa do amigo esquecida, ou o contrário, peças de roupa da sua mulher na casa do amigo, e assim em diante...
São ilustrações portanto, da importância que devemos dar as evidências não só na ciência em geral, mas no nosso dia a dia.

Falando ainda na vida cotidiana, é importante fazer uma observação.
Nem sempre temos os meios de buscar por evidências. Confiamos na palavra de um velho e bom amigo, e muitas vezes, essa palavra se mostra verdadeira no futuro. Mas, ao contrário, podemos caminhar na rua e, ao negar esmola a um mendigo, podemos ouvir dele : "Você morrerá daqui 5 minutos seu egoísta miserável !". Dificilmente daremos importância a uma ameaça desse tipo.
Isso nos leva a dois comuns tipos de falácias lógicas :
O argumento de autoridade, também conhecido como argumentum ad verecundiam, e o argumentum ad hominem.
No argumento ad verecundiam tomamos como verdade auto-evidenciável a afirmação de alguém que possua credibilidade. É o caso do seu bom e velho amigo por exemplo, que se mostrou certo diversas vezes no passado.
Já no argumento ad hominem ocorre o contrário. Se foi um "simples" mendigo sem importância que falou, COM CERTEZA ele está errado, e suas alegações não podem ser levadas em conta.
No dia a dia, preconceitos desse tipo podem ter sua utilidade prática, mas muitas vezes podem se mostrar falsos, e daí decorre todo tipo de discussão sobre o preconceito.

Uma auto-observação de nosso comportamento preconceituoso se faz necessária. Até que ponto o meu preconceito com relação a X é sustentado por evidências, e até que ponto ele é sustentado meramente por tradição cultural, ou argumentos de autoridade ?



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Referências Bibliográficas :
Vídeos retirados do Youtube.
Dawkins, Richard. O capelão do Diabo. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
Russell, Bertand. Porque não sou cristão. Editora L&PM Ed.1



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