O garotinho não chegou a conhecer o seu pai biológico e convive com um padrasto (branco) desde os 8 meses idade.
Há pouco menos de um ano o casal teve uma filha. A garotinha nasceu branca.
A mãe se queixa que seu filho repete constantemente que "quer ser branco" e que é "um menino feio". Ela continua explicando: "O problema é que a minha filhinha nasceu branquinha, com cabelo bom, lisinho! Enquanto nós temos este cabelo ruim aqui (*pega em seu cabelo neste momento*), sabe?". Prossegue: "Eu sei que o preconceito está em todo lugar, sabe? Mas nunca fiquei sabendo de nada que alguém tenha falado com ele na escolinha ou algo do tipo! Não fiquei sabendo de nenhum insulto ou outras formas de preconceito.".
Conta também que na tentativa de agradar seu filho já tentou até fazer um "relaxamento" no cabelo dele, mas não obteve muito sucesso.
De uma maneira delicada tento chamar a atenção da mãe para o preconceito existente em seu próprio discurso: para ela, seu cabelo é aquele naturalmente considerado "ruim", "feio", enquanto o do branco é "liso", "bom".
Ligeiramente constrangida ela para, reflete por um instante e lembra de alguns momentos onde seu marido - na presença do garotinho - acariciava sua filha dizendo coisas como: "Olha que cabelinho liso mais lindo!".
Recém-nascida, a garotinha branca se transformou no centro das atenções em casa e roubou bastante um espaço que antes era ocupado exclusivamente pelo garotinho negro. Além disso, pode-se presumir que os elogios ao cabelo e a beleza da garotinha se repetem em outros contextos, como encontros familiares.
Gradualmente o garotinho está aprendendo que, se você é branco e tem cabelo liso você é uma pessoa boa, bonita e que recebe mais atenção do outro. A mãe, por sua vez, começa a aprender que o preconceito não está necessariamente fora de casa apenas: está em seus próprios comportamentos.
*originalmente publicado no Facebook - dia 30/08/2013
*originalmente publicado no Facebook - dia 30/08/2013