segunda-feira, 4 de outubro de 2010

As origens do comportamento

Escrevo esse post inspirado por um comentário realizado pelo meu amigo Daniel Gontijo (http://danielgontijo.blogspot.com/) e também com o intuito de complementar minha postagem anterior (http://cardinalismo.blogspot.com/2010/08/explicacoes-historicas-proximas-e.html).

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Seremos capazes de melhor explicar o comportamento humano a medida em que avançam os estudos da Fisiologia (incluindo aí as ciências do cérebro), das ciências relacionadas a Etologia e da Análise do Comportamento (incluindo também a análise de práticas culturais).
No que diz respeito as ciências do cérebro, o desenvolvimento de novas tecnologias tem nos levado a avanços nunca antes imaginados, e a antiga definição filosófica do conceito de "mente" vem perdendo espaço para uma definição mais moderna: a mente é “o que o cérebro faz”.

Os fenômenos neurofisiológicos relacionados a eventos privados (subjetivos) como memória, crenças, sensações de tristeza, dor, alegria, etc. estão pouco a pouco sendo melhores compreendidos.

Do ponto de vista da Análise do Comportamento porém, é necessário fazer uma importante ressalva:  todo esse conhecimento acumulado a respeito do funcionamento do cérebro, por si só, não nos fornece uma explicação adequada sobre as origens do comportamento. O que "o cérebro faz" não é um início.


Para melhor exemplificar o argumento:
João pega um ônibus todos os dias para comprar pão. Poderia-se explicar esse comportamento dizendo que João pega o ônibus todos os dias pois possui a crença de que a padaria estará lá, com pães recém saídos do forno. Podemos ser ainda mais econômico na explicação, e dizer que João pega o ônibus simplesmente porque tem vontade.
Atualmente, é possível até mesmo identificar quais são os padrões do funcionamento cerebral quando essa "crença é colocada em prática", ou seja, quando João sai de casa, se dirige ao ponto de ônibus, adentra o veículo, etc.
 
Por mais impressionantes que seja essa tecnologia, os "estados neurofisiológicos imediatamente determinantes do comportamento" identificados pela neurociência tem pouco poder explicativo quando a questão em jogo é a origem do comportamento, pois a própria origem do padrão neurofisiológico presente naquele momento precisa também ser explicada, e ela é necessariamente histórica.

O mesmo se dá com explicações que utilizam-se dos conceitos de crença e vontade. A origem do comportamento não será adequadamente explicada até que a própria "crença" ou "vontade" tenha sido explicada. Um modelo explicativo histórico se faz necessário para compreender os determinantes do comportamento (vide post anterior).

Volto portanto a reafirmar a importância dos estudos das ciências do cérebro para a compreensão do fenômeno comportamental como um todo, desde que se tenha a consciência de que o as origens do comportamento não serão encontradas no próprio cérebro. Estudar o cérebro é fazer um recorte explicativo, e sem o auxílio de uma ciência histórica do comportamento caíremos no mais profundo reducionismo.

Da mesma forma que o modelo de seleção por consequencias explica a origem das espécies (e a palavra chave no livro de Darwin era "origem"), ele se propõe a explicar as origens dos comportamentos. Explicar a origem do comportamento a partir de "crenças" ou "padrões neurofisiológicos" é o mesmo que recorrer a um Deus criador enquanto iniciador ou designer das espécies: teremos sempre que explicar Deus (e seus motivos) antes de mais nada!

5 comentários:

  1. acredite voce ou nao, eu acho que entendi.

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  2. Excelente texto, meu amigo Ramon. Acho que os psicólogos de forma geral concordam que precisamos recorrer a eventos passados para compreender a origem dos comportamentos. Mas uma boa explicação do comportamento, como você afirmou, deve levar em conta as ciências do cérebro. Veja que há duas coisas em questão: explicações para a origem e para o comportamento "como um todo" (que demanda mais de um nível de análise).

    Em breve publicarei um texto tratando sobre mais ou menos isso.

    Obrigado pela consideração. Um abraço!

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  3. Concordo Daniel !
    A palavra chave é complementaridade. De forma alguma uma coisa exclui a outra.

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  4. As memória de nossa vida nada mais são do que reflexos das vibrações energéticas captadas por nossa almo ao longo de nossa existência.

    Tenho para mim de que a crença em algo é instrínseco ao padrão da aura de cada pessoa.
    Uma pessoa com a alma perturbada possui uma aura mais escura e esta escuridão trás consigo crenças que interferem na vida de um ser negativamente.

    O nosso cérebro nada mais é do que um interpretador de frequências das ondas emitidas por nossa alma. Ele é a nossa interface entre o mundo físico e o mundo espiritual. Os estudos desta interface são muito importantes, mas não eliminam a necessidade de se estudar o elemento mais intrínseco de cada ser, que é a sua alma.

    Um abraço do amigo Laplace.

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